O encontro contou com a presença de Pe. Bruno Ciceri, responsável do Setor Apostolado do Mar no Conselho Pontífico para os Migrantes e Itinerantes, e D. Jacyr Francisco Braido, bispo de Santos, sinais evidentes da ação dos scalabrinianos em comunhão com a Igreja universal e local, e Padre Alfredo José Gonçalves, Superior Provincial da Província São Paulo.
Durante o encontro, religiosos e leigos - funcionários e voluntários – scalabrinianos refletiram sobre a necessidade de “retornar às origens do carisma” da Congregação que, desde 1887 conta com capelães de bordo e nos portos, como acontece em Santos y Guarujá, atualmente o maior porto da América latina. O mar de ontem, rasgado por navios a vapor apinhados de migrantes europeus rumo ao Novo mundo, é hoje lugar de trabalho para milhares de operários da marinha mercante e dos cruzeiros turisticos, sem contar com os milhões de pescadores que vivem do mar. O encontro que recebeu representantes de entidades relacionadas ao ambiente marítimo (alfândega, autoridades portuárias, Governamentais, sindicatos, ITF e ICMA) serviu para trocar informações, experiências e boas práticas pastorais e sociais sobre o Apostolado do Mar desenvolvido em parceria com organizações religiosas (luteranos, batistas, entre outros), organizações governamentais e cívicas pelos scalabrinianos nos 10 portos nos cinco continentes.
Como principal resolução do encontro foi criação da Rede Scalabriniana do Apostolado do Mar com o objetivo de sistematizar, articular e integrar o trabalho com marítimos, pescadores e familiares desenvolvido nos portos de Ravenna (Itália), Kaoshiung (Taiwan), Cape Town e Saldana Bay (África do Sul), Montevídeo (Uruguai), Buenos Aires (Argentina), Rio Grande, Rio de Janeiro e Santos (Brasil) e Manila (Filipinas).
Padre Paulo Prigol, Capelão e Diretor do Centro Stella Maris em Manila, eleito representante da recém-criada Rede Scalabriniana do Apostolado do Mar junto à Direção Geral da Congregação, destaca os principais desafios que motivaram a criação da rede: “Mesmo trabalhando em realidades diferentes, nos cinco continentes, enfrentamos desafios comuns, pois, via de regra, estamos lidando com os marítimos que saem de determinada origem, das Filipinas - os filipinos constituem o maior contingente de trabalhadores marítimos no mundo - mas que chegam aos portos de Argentina, Uruguai ou Brasil. Ou, em outros casos, em diferentes países, nos defrontamos com os mesmos problemas trabalhistas ou questões relacionadas às famílias que ficam em terra. E há ainda dificuldades comuns enfrentadas pelos capelães no exercício do seu ministério ou pelos leigos que trabalham conosco. Então, é a partir desse contexto que entendemos ser importante a criação de uma rede para que possamos unir esforços, otimizar recursos humanos, técnicos e financeiros, a fim de que nossa resposta como Congregação a esta obra de evangelização seja, de fato, mais adequada à desafiante realidade dos trabalhadores do mar”.
Rui Pedro, conselheiro geral da Congregação, responsável pela organização do encontro, faz uma avaliação geral dos trabalhos: “Nossa avaliação é muito positiva, pois a primeira leitura que fazemos desta realidade é que os marítimos, pescadores e suas famílias apreciam a presença da Igreja em seus ambientes. Não podemos esquecer que estamos falando de um contingente de 1,400 milhões de marítimos e de cerca de 30 milhões de pescadores. Mas disso decorre uma série de conseqüências para as quais devemos nos preparar ainda mais e melhor. Por exemplo, temos de melhorar a infraestrutura em alguns de nossos centros de atendimento aos marítimos, pois a demanda está sempre crescendo. O Stella Maris de Santos, orientado pelo P. Samuel Fonseca, acolhe 80 a 100 marítimos por dia! De modo especial nos preocupa a crescente privatização dos portos, pois, em alguns casos, isso implica em restrição a nossa presença para visitar os barcos dentro dos terminais e plataformas. É fato porém que, como religiosos, nossa missão específica de evangelização se cruza com o aspecto social e humano desses trabalhadores. Por isso, não podemos ignorar – e este é um compromisso enquanto Congregação Scalabriniana fiel aos princípios inspiradores do Apostolado d Mar – todos os aspectos que envolvem a vida dos trabalhadores do mar: questões legais, condições de trabalho, saúde física e psicológica, mas igualmente, as questões afetivas, a ausência de casa e relacionamento com seus familiares, ainda oferecendo nossa assistência religiosa para aqueles que são católicos, evangelizando sem proselitismo e respeitando todas as religiões a bordo e em terra”.
O secretario regional nas Américas da Federação Internacional dos Trabalhadores em Transportes (ITF), Antonio Rodriguez Fritz, esteve no encontro, falando sobre a realidade dos trabalhadores do mar e pedindo o apoio dos missionários para campanhas em curso em nível mundial: “Estamos fazendo um grande esforço junto aos governos, aos organismos internacionais e às empresas para que sejam implementadas medidas mais efetivas contra a pirataria em alto mar que afeta diretamente a segurança, as condições de trabalho e a vida dos trabalhadores. Em alguns casos, essas ações estão nas mãos de grupos muito bem organizados e se tornaram uma verdadeira indústria, por isso, o combate à pirataria no mar precisa ser um esforço coletivo. E a ajuda de vocês, enquanto Congregação e da Igreja que também dá assistência a esses trabalhadores será fundamental para nós”.
Participaram também do encontro Pe. Benjamin Rossi, com vista ao resgate histórico da presença ainda muito desconhecida, mas determinante, da ação profética do Fundador, bem-aventurado João B. Scalabrini e seus missionários, na defesa intransigente dos direitos humanos nos portos de partida e de chegada. Pe. Leonir Chiarello, diretor executivo da ONG Scalabrini International Migration Network, apresentando os princípios, metodologia e dimensões do trabalho em rede em nível da representação, desenvolvimento e foundraising. Pe. Bruno Ciceri, atual responsável mundial da Obra do Apostolado do Mar, da Santa Sé, apresentou o ensinamento da Igreja e as orientações pastorais para o Setor, afirmando a “necessidade de uma reestruturação global do setor e favorecimento de trabalho em rede, sistematizando os dados das centenas de Centros “Stella Maris” nos sete mares do mundo, com vista à descrição concreta e sempre atualizada do conhecimento e ação da Igreja no mundo do trabalho no mar. Nos navios que garantem o comércio mundial trabalham milhares de trabalhadores, na sua maioria migrantes internacionais, sobretudo homens e provenientes da asiáticos Ásia, sendo os filipinos 30% do total”.
No encontro foi aprovado um plano de trabalho para 2011-2015 que contempla, dentre outros projetos, a criação de um banco de dados para coletar e compartilhar informações, campanhas de prevenção de VIH-Aids e outras DSTs junto aos marítimos, programas de formação contínua para capelães e voluntários leigos e projetos para auto-sustentação financeira dos Centros Stella Maris administrado pelos scalabrinianos religiosos e leigos e o estudo da assunção de outros portos, como o caso dos portos de Haiti e Jacarta.
O próximo encontro da Rede Scalabriniana do Apostolado do Mar está previsto para agosto de 2011, em Hamburgo, na Alemanha.
HISTÓRICO - A Obra do Apostolado do Mar foi criada em 1899, em Glasgow, na Escócia. Ligado, inicialmente, à Companhia de Jesus junto ao Apostolado da Oração, o trabalho com os marítimos foi interrompido durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Após a Guerra, o trabalho foi reiniciado, e em 1920 a organização obteve a bênção da Santa Sé, permitindo que a organização se desenvolvesse e consolidasse o trabalho pastoral pelos cinco continentes, até que em 1957, obteve reconhecimento pontifício e a sede da organização foi transferida de Londres para Roma. Em 1970, o Apostolado do Mar foi incorporado à recém-formada Comissão Pontifícia para a Assistência Espiritual dos Migrantes e Itinerantes, que veio, posteriormente, a se tornar o atual Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes.
O principal objetivo do Apostolado do Mar é oferecer o cuidado pastoral e humano a todos os trabalhadores marítimos e pescadores assim como às suas famílias, dependentes e comunidades associadas. O Apostolado do Mar oferece meios práticos para ajudar esses trabalhadores, através das casas de acolhida, conhecidas mundialmente como Stella Maris (ou Seamen’s Center), onde são oferecidos uma série de serviços: hospedagem, transporte, telefonia, internet, sala de jogos e de recreação, bibliotecas, visitas aos navios, apoio a doentes, além do atendimento humano e espiritual com celebrações, confissões ou aconselhamentos para os marítimos católicos, e ainda um lugar para culto de outras confissões. Alguns Centros, como o de Santos, desenvolvem esse atendimento em conjunto com outras confissões religiosas, pois o trabalho pastoral é feito a qualquer marítimo, independente de raça, cultura, nacionalidade ou credo.
Mais informações sobre a Rede Scalabriniana do Apostolado do Mar: www.simn-cs.net
Brasil, Santos: 12 outubro 2010
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Pe. Rui Pedro, Conselheiro Geral, faz uma avaliação geral do Encontro